quarta-feira, outubro 6

Adaptação

Uma breve introdução para um tema que irei tratar num futuro próximo:


No budismo existe um princípio chamado Zuiho Bini que significa adaptar o ensino a localidade onde se vive.
Há 50 anos atrás, quando meu mestre veio pra América para se encontrar com os descendentes de japoneses daqui e oficializar a Gakkai*, essa foi a primeira coisa que ele pensou: como adaptar o budismo considerando as diferenças de cultura, costumes, pensamentos e características próprias de cada país.
A primeira ação tomada foi traduzir os livros budistas para o inglês, tendo toda a preocupação em encontrar termos adequados para que as pessoas sem conhecimento do budismo pudessem compreendê-los.
Depois surgiram coisas mais práticas:
“A diferença nos hábitos e costumes é uma questão a ser pensada seriamente. Por exemplo, sentar ao estilo japonês na hora de realizar a oração é um sofrimento para os estrangeiros. Além disso, quase todas as residências da América têm piso de madeira. Para quem não está acostumado a ficar de joelhos, com certeza será um terrível sofrimento e desse jeito, não será possível sentir qualquer alegria... Será que o modo de se sentar não pode ser mudado?”
E foi sugerido o uso de cadeiras.
Eu não sei nos outros países, mas aqui no Brasil essa adaptação foi bem lenta.
Eu me lembro que quando pequena (há mais de 30 anos atrás) eu ia nas reuniões e ajoelhava no chão (sem nenhuma almofadinha) e não entendia bolhufas porque todo mundo só falava japonês.
Também 90% de todo mundo era japonês.
Mas, tinha uma coisa boa: na hora do lanchinho só tinha comida japonesa, que eu adorava, tirando o bolinho de feijão, eca! rsrsrs
Hoje, o quadro mudou completamente: em todas as atividades as pessoas ficam sentadinhas na cadeira, quando é usado um termo em japonês logo fazem a tradução e no lanchinho tem coxinha.
Também agora mais de 90% de todo mundo é brasileiro.
Aliás, existe 100% de uma linda miscigenação associada a diferentes níveis sociais, culturais e educacionais.

Finalizando, tomo emprestada uma consideração de Sensei que me introduzirá no próximo tema:
O meu maior receio é que os líderes caíam na inflexibilidade de aplicar o mesmo método de atuação do Japão em todo o mundo, considerando-o como o único e absoluto meio. Isso seria como impor a todas as pessoas do mundo os modos típicos do Japão. Se pensar que essa é a maneira correta de fazer a prática, o budismo será visto como um ensino estreito e limitado.”


*Sokka Gakkai (organização budista que significa Criação de Valores Humanos)